O que se segue é
um texto longo. Resume as minhas emoções e recordações quando revejo
mentalmente o momento.
No passado
Domingo voltei a participar num Triatlo de Distancia Longa, na famosa distancia
celebrizada pela marca “Iron Man”, 3.8km a nadar, 180km a pedalar e 42km a
correr.
Foi a minha 4ª participação
neste desafio, todas elas no mesmo local. No Northwest Triman na pequena cidade
de “As Puentes” no norte da Galiza.
Foi uma
participação diferente de todas as outras. Depois da ultima participação em
2019, tinha decidido fazer uma pausa de uns anos nestas distancias. Fazer estas
provas em modo competitivo, obriga a muitas horas de dedicação. Muita entropia
numa vida já de si atarefada.
O antes:
Mas no ultimo dia
das inscrições para 2020, a pedido da família, inscrevi-me. Só assim faria
sentido voltar a participar. Tinha que vir deles. A vontade tb tinha que ser
deles.
Depois veio a
pandemia e 2020 não aconteceu. E entretanto a pandemia entrou por dentro de
2021 e convenci-me que a prova ia ser adiada para o final do ano. Mas não foi 😊
Confrontado com o
não adiamento e tendo em conta que em 2021 o meu treino tem sido virado para as
distancias curtas, vi-me assaltado por algumas duvidas. Não vou? Tento mudar a
inscrição para a média distancia? O que fazer?
Empurrado pela
família, decidi deixar estar, tentar encarar a prova de forma diferente. De uma
forma relaxada e tranquila, sem pressões competitivas. Sinto-me bem fisicamente
e de saúde, a base e a consistência do treino está no corpo, sentia-me
confiante para os segmentos de natação e ciclismo. Tinha consciência que me
faltava o volume na corrida. A única o forma de conseguir fazer a corrida (e
era só um pensamento incerto), e em modo de sobrevivência, era tentar chegar o
mais imaculado possível a este segmento. Teria que nadar, e em especial
pedalar, muito defensivamente. Esperar que as condições do dia não estivessem
muito agressivas, alimentar-me bem e ver o que conseguia fazer na corrida.
Queria pelo menos correr 20km continuamente.
Apesar de ir sem objectivos,
não queria demorar mais de 12h, para ainda ir jantar com a família a tempo e
horas. Além do mais, dias antes da prova, apercebi-me que tb havia um Portugal Bélgica
para ver. 12h era razoável.
A minha
preparação especifica constou num bloco de 2 semanas em que procurei fazer mais
de 60km/semana. A corrida mais longa foi de 20km. Curto, mas deu para perceber
que até ai iria bem.
Adoro o local da
prova. Já criei laços com o mesmo e com algumas pessoas. Este ano tudo correu
muito bem. A viagem, o rever as pessoas, o desfrutar da Galiza e da própria
localidade. O descanso nunca é o ideal, mas faz parte. Há-que encontrar o
balanço. Afinal ia passar uns dias de férias e pelo meio tinha um Iron Man para
fazer.
A previsão do
tempo para o dia não era animadora. Apesar de Sábado ter estado um dia
agradável, o esperado para Domingo era a vinda da chuva e uma baixa
significativa da temperatura. 15 graus de máxima. Tentando ver o copo meio
cheio, o estar fresco ia ajudar na corrida, onde a dureza começa a sério.
Este ano, devido
á pandemia, a corrida era realizada junto ao lago, num percurso praticamente
todo em terra batida. Na mesma 4 voltas de 10.5km, que tal como no percurso
dentro da cidade, um falso plano. Ganhávamos em beleza da vista, perdias no
apoio e no calor humano (embora não tenha sido bem assim).
Por dentro:
A prova este ano
começava mais tarde de forma a evitar o que sucedeu em 2019. A neblina matinal
obrigou ao cancelamento do segmento de natação. E para evitar ajuntamentos na
corrida, a prova de Media Distancia começava 1º. 8h. A longa distancia às 8h30’. Os atletas da
LD só poderiam entrar na box às 7h45’.
Isso fez com que
acordasse a horas normais, sem stresses. Eram 7h estava a tomar o pequeno almoço
tranquilamente só. A família queria dormir 😊 O
hotel onde fiquei é a 2 km do lago. Decidi caminhar tranquilamente até lá. Era o
meu momento zen solitário da manha. Ainda me ofereceram boleia, que prontamente
recusei. Queria aquele momento para mim.
O meu único receio,
dado o trauma de 2019, era que estivesse de novo neblina no lago. Vinha para fazer
um Triatlo, não um Duatlo Longo. Duvidas que rapidamente se dissiparam quando
cheguei ao lago! Nada de neblinas matinais!!!!
Dentro da Box foi
tudo tranquilo. A partida da natação foi em rolling start, 2 atletas de 5 em 5’.
Tudo funcionou com uma precisão incrível. De forma ordeira. Lá parti. Agua algo
fria. Mas era para ir indo, no relax. Sem bater pernas, relaxado, sem grande
esforço. Por volta dos 3km comecei a sentir frio, talvez por ir demasiado
relaxado. Frio que se apoderou de mim na T1. Estavam 12 graus e eu tremia que
nem varas 😊
Sabia que ia
estar fresco, por isso levei por cima do tri suit um colete sem mangas. Ajudava
tb na alimentação. Podia levar toda a alimentação comigo. Isso era importante. Arrependi-me
de não ter ido mais tapado, demorei a aquecer, e sempre que chovia, voltava a
arrefecer. Numa prova em que precisas de conservar energia e queres ir o mais confortável
possível, não era bom.
Mais uma vez, o relógio
apenas serviu para ver as horas e por ai estimar grosso modo os ritmos. A 1ª
vez que olhei para ele foi quando comecei o segmento de ciclismo. E percebi que
o tempo na natação foi uns 10’ a mais do que esperava. Mesmo indo no relax.
Ainda não consigo explicar o sucedido. Em anos anteriores, nadei da mesma
forma, e fiz menos 10’. Penso que terá sido um misto de ainda ter nadado mais
lento, da agua estar algo choppy devido ao vento, e de o percurso ter na
realidade mais de 4km. Em geral todos os tempos da natação foram altos.
O segmento de
ciclismo foi em modo para arranca sem forçar nada. A ideia de chegar imaculado
á corrida prevalecia. Parei certamente umas 15 vezes. 7 ou 8 para urinar (um fenómeno
que já me sucedera em 2016 e que atribuo ao ir com frio), mais duas por cada
volta. Uma para tirar fotos com a família e outra para reabastecer de líquidos.
O regulamento este ano obrigava a paragem total nos reabastecimentos de
ciclismo. Havia mesas self service. Os voluntários apenas diziam o que estava
dentro dos bidons, mas não os podiam dar.
As paragens tb
serviam para avaliar o estado das pernas. E os sinais eram positivos. Fui
sempre bastante confortável até aos 120k. A partir dai comecei a sentir
desconforto na zona lombar e na zona do selim. Mas fisicamente ia bem, e isso
era o mais importante. A alimentação e hidratação ia certinha!
Cheguei tranquilo
à corrida, como pretendido. Fiz uma T2 pausada, estiquei-me um pouco e segui
para o segmento. Os 1os km são sempre estranhos. O corpo precisa de encontrar o
seu ritmo. Mas após o 5º km comecei a ter boas sensações. Não sabia a que ritmo
ia. Claramente lento, mas não a passo de caracol 😊
Nesse momento podia claramente ter imprimido um ritmo diferente. Mas contive-me.
Era muito cedo, e sabia que muscularmente não estava preparado para os 42km. Parei novamente 1 x volta para urinar e nos
reabastecimentos de 5 em 5km. Alimentava-me, hidratava-me e seguia. A única parte
do percurso que não fazia a correr era a rampa dos 19% de inclinação.
Com o passar dos
km, as pernas iam mostrando sinais de desgaste. Começavam a ficar pesadas, mas
a meta tb estava mais próxima. Era procurar não ver o todo. O objectivo era correr
até ao próximo reabastecimento. Depois desse, até ao seguinte. E assim foi,
sempre certinho no ritmo.
Quando passei os
20km , as minhas expectativas já estavam cumpridas. Tudo o que viesse agora, já
era ganho. O meu focus passou a ser terminar abaixo das 12h. Tens sempre que te
“agarrar” a algo. E assim lá consegui correr os 42km sem caminhar!!!
Os meus receios
de falta de apoio no segmento de corrida, não se confirmaram. Não faltou público
a incentivar e mesmo quando não havia, lá estavam os incensáveis voluntários.
Tremendo.
E assim terminei
o meu 4º Triman. 11h49’, dentro do objectivo! Mais 50’ do que fiz em 2016. Obviamente
que com condições diferentes, mas acima de tudo, uma atitude e idade diferentes.
Nesse dia ia para o melhor possível. Mas este tb foi aquele em que sofri menos,
em que partilhei mais o momento com a família, o que me deixa uma boa sensação
imediata. Talvez até a vontade de voltar a fazer um em modo mais competitivo 😊. Algo que já estava fora dos planos. A ponderar.
O depois:
Agora é descansar
e voltar ás rotinas e às provas curtas!
Muitos foram os
que me ajudaram nesta jornada. A todos eles um agradecimento de coração e embora
nestas coisas já seja um lugar comum, um agradecimento especial à família. Não
só pelo apoio durante toda a jornada, mas por suportarem toda a preparação para
esta aventura. Este dias ficaram no coração. Vão perdurar para sempre.
E como sempre
digo, não é pelas horas que passo a treinar, mas sim pelas horas em que estou cansado
e não estou 100% disponível mentalmente como deveria estar. Já não falando dos
planos por vezes adiados devido à logística dos treinos.
Bons treinos!