Thursday, 1 July 2021

Northwesttriman - Um Triatlo de Distancia Longa diferente

 


O que se segue é um texto longo. Resume as minhas emoções e recordações quando revejo mentalmente o momento.

No passado Domingo voltei a participar num Triatlo de Distancia Longa, na famosa distancia celebrizada pela marca “Iron Man”, 3.8km a nadar, 180km a pedalar e 42km a correr.

Foi a minha 4ª participação neste desafio, todas elas no mesmo local. No Northwest Triman na pequena cidade de “As Puentes” no norte da Galiza.

Foi uma participação diferente de todas as outras. Depois da ultima participação em 2019, tinha decidido fazer uma pausa de uns anos nestas distancias. Fazer estas provas em modo competitivo, obriga a muitas horas de dedicação. Muita entropia numa vida já de si atarefada.

 O antes:

Mas no ultimo dia das inscrições para 2020, a pedido da família, inscrevi-me. Só assim faria sentido voltar a participar. Tinha que vir deles. A vontade tb tinha que ser deles.

Depois veio a pandemia e 2020 não aconteceu. E entretanto a pandemia entrou por dentro de 2021 e convenci-me que a prova ia ser adiada para o final do ano. Mas não foi 😊

Confrontado com o não adiamento e tendo em conta que em 2021 o meu treino tem sido virado para as distancias curtas, vi-me assaltado por algumas duvidas. Não vou? Tento mudar a inscrição para a média distancia? O que fazer?

Empurrado pela família, decidi deixar estar, tentar encarar a prova de forma diferente. De uma forma relaxada e tranquila, sem pressões competitivas. Sinto-me bem fisicamente e de saúde, a base e a consistência do treino está no corpo, sentia-me confiante para os segmentos de natação e ciclismo. Tinha consciência que me faltava o volume na corrida. A única o forma de conseguir fazer a corrida (e era só um pensamento incerto), e em modo de sobrevivência, era tentar chegar o mais imaculado possível a este segmento. Teria que nadar, e em especial pedalar, muito defensivamente. Esperar que as condições do dia não estivessem muito agressivas, alimentar-me bem e ver o que conseguia fazer na corrida. Queria pelo menos correr 20km continuamente.

Apesar de ir sem objectivos, não queria demorar mais de 12h, para ainda ir jantar com a família a tempo e horas. Além do mais, dias antes da prova, apercebi-me que tb havia um Portugal Bélgica para ver. 12h era razoável.

A minha preparação especifica constou num bloco de 2 semanas em que procurei fazer mais de 60km/semana. A corrida mais longa foi de 20km. Curto, mas deu para perceber que até ai iria bem.

Adoro o local da prova. Já criei laços com o mesmo e com algumas pessoas. Este ano tudo correu muito bem. A viagem, o rever as pessoas, o desfrutar da Galiza e da própria localidade. O descanso nunca é o ideal, mas faz parte. Há-que encontrar o balanço. Afinal ia passar uns dias de férias e pelo meio tinha um Iron Man para fazer.

A previsão do tempo para o dia não era animadora. Apesar de Sábado ter estado um dia agradável, o esperado para Domingo era a vinda da chuva e uma baixa significativa da temperatura. 15 graus de máxima. Tentando ver o copo meio cheio, o estar fresco ia ajudar na corrida, onde a dureza começa a sério.

Este ano, devido á pandemia, a corrida era realizada junto ao lago, num percurso praticamente todo em terra batida. Na mesma 4 voltas de 10.5km, que tal como no percurso dentro da cidade, um falso plano. Ganhávamos em beleza da vista, perdias no apoio e no calor humano (embora não tenha sido bem assim).

 Por dentro:

A prova este ano começava mais tarde de forma a evitar o que sucedeu em 2019. A neblina matinal obrigou ao cancelamento do segmento de natação. E para evitar ajuntamentos na corrida, a prova de Media Distancia começava 1º.  8h. A longa distancia às 8h30’. Os atletas da LD só poderiam entrar na box às 7h45’.

Isso fez com que acordasse a horas normais, sem stresses. Eram 7h estava a tomar o pequeno almoço tranquilamente só. A família queria dormir 😊 O hotel onde fiquei é a 2 km do lago. Decidi caminhar tranquilamente até lá. Era o meu momento zen solitário da manha. Ainda me ofereceram boleia, que prontamente recusei. Queria aquele momento para mim.

O meu único receio, dado o trauma de 2019, era que estivesse de novo neblina no lago. Vinha para fazer um Triatlo, não um Duatlo Longo. Duvidas que rapidamente se dissiparam quando cheguei ao lago! Nada de neblinas matinais!!!!

Dentro da Box foi tudo tranquilo. A partida da natação foi em rolling start, 2 atletas de 5 em 5’. Tudo funcionou com uma precisão incrível. De forma ordeira. Lá parti. Agua algo fria. Mas era para ir indo, no relax. Sem bater pernas, relaxado, sem grande esforço. Por volta dos 3km comecei a sentir frio, talvez por ir demasiado relaxado. Frio que se apoderou de mim na T1. Estavam 12 graus e eu tremia que nem varas 😊

Sabia que ia estar fresco, por isso levei por cima do tri suit um colete sem mangas. Ajudava tb na alimentação. Podia levar toda a alimentação comigo. Isso era importante. Arrependi-me de não ter ido mais tapado, demorei a aquecer, e sempre que chovia, voltava a arrefecer. Numa prova em que precisas de conservar energia e queres ir o mais confortável possível, não era bom.

Mais uma vez, o relógio apenas serviu para ver as horas e por ai estimar grosso modo os ritmos. A 1ª vez que olhei para ele foi quando comecei o segmento de ciclismo. E percebi que o tempo na natação foi uns 10’ a mais do que esperava. Mesmo indo no relax. Ainda não consigo explicar o sucedido. Em anos anteriores, nadei da mesma forma, e fiz menos 10’. Penso que terá sido um misto de ainda ter nadado mais lento, da agua estar algo choppy devido ao vento, e de o percurso ter na realidade mais de 4km. Em geral todos os tempos da natação foram altos.

O segmento de ciclismo foi em modo para arranca sem forçar nada. A ideia de chegar imaculado á corrida prevalecia. Parei certamente umas 15 vezes. 7 ou 8 para urinar (um fenómeno que já me sucedera em 2016 e que atribuo ao ir com frio), mais duas por cada volta. Uma para tirar fotos com a família e outra para reabastecer de líquidos. O regulamento este ano obrigava a paragem total nos reabastecimentos de ciclismo. Havia mesas self service. Os voluntários apenas diziam o que estava dentro dos bidons, mas não os podiam dar.  

As paragens tb serviam para avaliar o estado das pernas. E os sinais eram positivos. Fui sempre bastante confortável até aos 120k. A partir dai comecei a sentir desconforto na zona lombar e na zona do selim. Mas fisicamente ia bem, e isso era o mais importante. A alimentação e hidratação ia certinha!

Cheguei tranquilo à corrida, como pretendido. Fiz uma T2 pausada, estiquei-me um pouco e segui para o segmento. Os 1os km são sempre estranhos. O corpo precisa de encontrar o seu ritmo. Mas após o 5º km comecei a ter boas sensações. Não sabia a que ritmo ia. Claramente lento, mas não a passo de caracol 😊 Nesse momento podia claramente ter imprimido um ritmo diferente. Mas contive-me. Era muito cedo, e sabia que muscularmente não estava preparado para os 42km.  Parei novamente 1 x volta para urinar e nos reabastecimentos de 5 em 5km. Alimentava-me, hidratava-me e seguia. A única parte do percurso que não fazia a correr era a rampa dos 19% de inclinação.

Com o passar dos km, as pernas iam mostrando sinais de desgaste. Começavam a ficar pesadas, mas a meta tb estava mais próxima. Era procurar não ver o todo. O objectivo era correr até ao próximo reabastecimento. Depois desse, até ao seguinte. E assim foi, sempre certinho no ritmo.

Quando passei os 20km , as minhas expectativas já estavam cumpridas. Tudo o que viesse agora, já era ganho. O meu focus passou a ser terminar abaixo das 12h. Tens sempre que te “agarrar” a algo. E assim lá consegui correr os 42km sem caminhar!!!

Os meus receios de falta de apoio no segmento de corrida, não se confirmaram. Não faltou público a incentivar e mesmo quando não havia, lá estavam os incensáveis voluntários. Tremendo.

E assim terminei o meu 4º Triman. 11h49’, dentro do objectivo! Mais 50’ do que fiz em 2016. Obviamente que com condições diferentes, mas acima de tudo, uma atitude e idade diferentes. Nesse dia ia para o melhor possível. Mas este tb foi aquele em que sofri menos, em que partilhei mais o momento com a família, o que me deixa uma boa sensação imediata. Talvez até a vontade de voltar a fazer um em modo mais competitivo 😊. Algo que já estava fora dos planos. A ponderar.

 O depois:

Agora é descansar e voltar ás rotinas e às provas curtas!

Muitos foram os que me ajudaram nesta jornada. A todos eles um agradecimento de coração e embora nestas coisas já seja um lugar comum, um agradecimento especial à família. Não só pelo apoio durante toda a jornada, mas por suportarem toda a preparação para esta aventura. Este dias ficaram no coração. Vão perdurar para sempre.

E como sempre digo, não é pelas horas que passo a treinar, mas sim pelas horas em que estou cansado e não estou 100% disponível mentalmente como deveria estar. Já não falando dos planos por vezes adiados devido à logística dos treinos.

Bons treinos!

5 comments:

  1. Bom relato. Aliás, não deixes de depositar estas crónicas que vou lendo com interesse. 4º!! Devias ser nomeado embaixador desta prova! ;)

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    1. A mulher já quer que eu lá vá mais uma vez😁

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  2. És o maior Paulinho!! A forma como encaras tudo isto.. é único!!Um privilégio ser teu amigo!

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  3. Parabéns por mais este desafio Paulo!

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